JEC 2024: Em ano de decepção, vaga no Brasileiro marca sobrevivência do clube

Em 48 anos de história, o 2024 do Joinville Esporte Clube (JEC) talvez tenha sido o mais desafiador. Com uma receita enxuta e uma Recuperação Judicial (RJ) em curso, um dos maiores clubes de Santa Catarina sobreviveu com uma montanha-russa de sentimentos ao longo da temporada.
Clube conquistou respiro em 2024










Se uma expressão popular pudesse resumir a fase vivida, com certeza o Joinville tenta “vender o almoço para comprar a janta”. Sem calendário há três anos, o momento que o time ultrapassa é delicado principalmente na questão financeira.
Más administrações na última década fizeram crescer a lista de funcionários com valores a receber, ao ponto do clube precisar recorrer à Recuperação Judicial para renegociar as dívidas com os credores. Na época, o montante ultrapassava os R$ 21 milhões, sendo R$ 13,8 milhões débitos trabalhistas.
A principal aposta foi tornar o torcedor, aquele que não mede esforços ao clube com esperança de ver ressurgir o Coelho multicampeão que há anos não sai da toca, em “patrocinador máster”. O plano, apesar de bem elaborado, não surtiu efeitos em números de associados. Hoje, são menos de 3 mil sócios adimplentes contribuindo com as finanças.
Aposta alta no Catarinense
A primeira competição do ano do Joinville foi o estadual. Com o mesmo formato, o objetivo também permanecia: garantir a classificação para a Série D, que desde 2021 o clube não disputa. Mesmo sendo a última divisão nacional, a quantia de R$ 400 mil como cota de participação significava respiro no balanço financeiro.
O JEC se preparou com investimentos pesados em atletas renomados no futebol brasileiro. Nomes como Muriqui, Bruno Silva, Diego Renan e Yuri Mamute chegaram para dar peso no elenco e significaram um investimento ainda maior na folha salarial de um clube endividado.
A classificação na 7ª colocação da primeira fase, garantiu vaga nas quartas de final, mas sem a certeza do calendário nacional. Marcílio Dias, Barra e Hercílio Luz também avançaram para o mata-mata e lutavam pelas três vagas oferecidas pela Federação Catarinense de Futebol (FCF).
No confronto de ida com o Avaí, maior público do campeonato até então. Quase 17 mil apaixonados viram um empate em 1 a 1 na Arena Joinville. Já na volta, o primeiro cenário de decepção. Veio a eliminação com uma goleada na Ressacada. O 4 a 0 para o rival escancarou a diferença atual entre os clubes.
Se não bastasse o resultado dentro de campo, a garantia da sobrevivência no próximo ano com a vaga no nacional dependia da classificação do Criciúma contra o Hercílio Luz no outro confronto.
Como é costumeiro por parte do torcedor do JEC, a vaga veio no sufoco. No último lance da partida de volta do duelo, o goleiro do Tigre defende uma cobrança de pênalti do Leão do Sul e uniu os torcedores presentes no Heiriberto Hulse e os jequeanos da maior cidade de SC na comemoração. O Joinville estava de volta ao Campeonato Brasileiro.
Após o término do campeonato, reestruturação completa no elenco. Com exceção de garotos das categorias de base e atletas no Departamento Médico (DM), praticamente todo o plantel foi desmontado. O que gerou novos acordos para acrescentar na folha financeira do clube.
Copa SC e a principal decepção
A sequência da temporada do Joinville foi amargar 176 dias até entrar em campo novamente. Da dura derrota contra o Avaí no Catarinense até a estreia na Copa Santa Catarina foram quase seis meses sem a principal atividade do clube. Porém, fora das quatro linhas o trabalho instituído como “A jornada” começou bem antes da bola rolar.
Com mais uma aposta em nomes reconhecidos para carregar o time ao tão sonhado retorno às glórias, o JEC anunciou Felipe Ximenes como CEO e Ney Franco como técnico do clube. A esperança nos profissionais com passagens nos maiores clubes do país para assumirem o papel de protagonistas na retomada durou cerca de dois meses.
A montagem do elenco para a Copinha não surtiu efeito dentro de campo e, após uma campanha de cinco empates e duas derrotas, o ano oficialmente do JEC acabou sem vitórias no torneio. Sem expectativas para continuidade, Ney Franco deixou o comando da equipe em comum acordo. Junto com Ney, mais um desmonte no plantel.
Somado os dois torneios estaduais, o JEC disputou 20 jogos e venceu apenas três. E o torcedor, aquele cotado para ser o principal ativo financeiro do clube, viu apenas uma vitória com o clube mandando jogos na Arena Joinville em 2024.
Mesmo sem o brilho de um time organizado ou aguerrido, novamente a torcida mostrou que o coração preto, branco e vermelho pulsa pela tradição e história, independente da situação atual.
Foram mais de 64,3 mil torcedores comparecendo na Arena nesta temporada em 10 jogos disputados. A média de 6,4 mil por jogo demonstra a fé na garra do Coelho 12 vezes campeão catarinense e bi campeão nacional no século XXI.
Retorno de Hemerson Maria
O último capítulo desta série de erros em 2024 que o torcedor pretende esquecer é talvez o ponto de equilíbrio e, novamente, uma faísca de esperança. O responsável pela última e maior conquista da história do JEC retornou para retomar o prestígio e a nostalgia da temporada mágica de 2014.
Uma década após o inédito título da Série B de 2014, o comandante Hemerson Maria chega ao Joinville com um cenário completamente oposto ao vivido há 10 anos. Um mar turbulento com problemas internamente desgastou a confiança e credibilidade com o povo da principal cidade de Santa Catarina.
O nome de Hemerson Maria entra no ouvido do torcedor com um prestígio e esperança de dias melhores, que já foram vividos com o mesmo rosto e sotaque. A formação da equipe segue com o aval do comandante mas com propostas limitadas, sem a mesma estrutura e a sensação de sobreviver é a única que ronda.
Desde sua chegada, há exatos dois meses, 12 reforços foram confirmados, alguns já conhecidos da mesma época gloriosa do Tricolor, e quatro jogos-treinos foram realizados nesta pré-temporada. Sem nenhuma vitória nos testes, a avaliação por parte do treinador é positiva, com ajustes necessários para tudo estar pronto em 11 de janeiro, estreia do Catarinense contra o Figueirense na Arena Joinville.
No próximo domingo (4), a equipe faz a última atividade antes do estadual. O confronto será com o São Joseense no CT Vilson Florêncio.
Os votos da virada do ano pro torcedor tricolor são os da esperança e a expectativa para o “vento Norte” soprar e levar o clube que nasceu campeão aos ares da vitória novamente. As cores preto, branco e vermelho que vestem a maior cidade do estado e a torna uma potência ainda maior no Brasil amarram a superstição de um 2025 muito melhor.
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