Primeira rua calçada de SC é tesouro turístico escondido em bairro histórico de Florianópolis; veja fotos
Uma estrada de pedra, com poucos metros de comprimento, sem passagem para o trânsito. Quem senta nos bancos da Praça Roldão da Rocha Pires, em Santo Antônio de Lisboa, bairro histórico e tradicional de Florianópolis, nem percebe, em um primeiro momento, que está bem ao lado da primeira rua calçada de Santa Catarina, local que já teve a presença de uma grande figura histórica. Em 2025, a rua completa 180 anos de construção.
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A história da primeira rua calçada de Santa Catarina é curiosa, com as pedras colocadas exclusivamente para a passagem do Imperador Dom Pedro II em uma visita na manhã de 21 outubro de 1845. O professor Sergio Ferreira, doutor em história cultural, explica que Dom Pedro II tinha apenas 18 anos quando visitou o sul do Brasil ao lado de D. Teresa Cristina.
Na época, Florianópolis ainda se chamava Nossa Senhora do Desterro e Santo Antônio de Lisboa era chamada de Nossa Senhora das Necessidades da Praia. O antigo nome foi dado por S. João V, em 27 de abril de 1750, quando o município foi elevado a categoria de Freguesia pela densidade populacional.
O professor Sergio conta que o então casal se hospedou em Desterro e resolveu realizar algumas visitas após o fim da Guerra dos Farrapos, conhecida como Revolução Farroupilha. No lugar de um casarão que hoje abriga o Restaurante Vila do Porto, havia um trapiche para embarque e desembarque de barcos.
Em um desses barcos, estava Dom Pedro II e D. Teresa Cristina. Para recebe-los, o povo açoriano, que vivia no local, resolveu tapar os buracos da rua anexa ao trapiche.
— Eles vieram de barco e saltaram do trapiche, e o povo daqui mandou calçar aquela ladeirinha que tem ali, aquela rua, porque era um lugar sempre com buracos — conta.
Os dois membros da realeza brasileira passaram pela rua e seguiram pela rua Cônego Serpa, até a Igreja de Santo Antônio de Lisboa, famosa na região. O padre, na época, rezou um solene Te Deum, uma canção tradicional da religião cristã como um hino de graças e louvor, mas também usada em ocasiões importantes.
— Eu conheci pessoas nascidas no início do século XX, que contavam como se tivessem vivido aquilo, então foi realmente algo que marcou muito — lembra o professor.
Sentados no meio-fio, Maria Luiza e Nathan não faziam ideia de que a estrada bem a frente deles já havia sido passagem da realeza. De boca aberta, surpresa, Maria Luiza disse que saber da história deixou a estrada “muito mas charmosa”. O casal, natural de Minas Gerais, está fazendo uma viagem pela cidade e não conheciam esse ponto turístico.
Como vendedora de bolos de pote, Maria Vitória já sabe que a praça anexa à estrada é o point durante o final de semana, com a passagem de muitas pessoas. Ela conheceu a história do lugar há pouco tempo, quando estava andando pela praça e decidiu olhar a placa de azulejos que conta sobre Dom Pedro II:
— Esses dias eu parei para ler, mas nunca tinha reparado —.
Para quem trabalha no Restaurante Vila do Porto, a história já é conhecida. Leandro, que está em Florianópolis há dois anos, trabalha como garçom desde que chegou ao local e acha que falta divulgação da origem dos lugares históricos da região.
— É pouca divulgação… acho que seria melhor até pra quem vem, fica mais fácil de se situar, porque às vezes tu vem e tu não tem um guia. Tu só bota a mochila nas costas e vem. E aí, tu chega aqui e não sabe por onde começar — aponta Leandro.
Ele também diz que as pessoas que chegam no restaurante, sempre se interessam pela história da pequena estrada de pedra ao lado do estabelecimento.
— Todo mundo se interessa por história. Quando a gente começa a contar, mesmo a gente não tendo muita prioridade sobre o assunto, sem muito conhecimento, a gente fala um pouco e a gente vê que toma a atenção deles. A gente fala o que a gente sabe, mas aí fica uma coisa meia vaga.
Leonardo, trabalha no local há cinco meses, lembra que o casarão em que hoje é o restaurante é tão antigo quanto a estrada.
— Também foi construído esse prédio, que só tinha a parte de baixo, e aí pra fazer o restaurante foi em 1845 — conta.
Dom Pedro II por Santa Catarina
A presença de Dom Pedro II não foi exclusiva à Santo Antônio de Lisboa. O professor Sergio explica que, na visita, o casal da realeza esteve em diversos lugares:
— Existe o Solar dos Neves em São José, inaugurado com um baile oferecido ao Imperador e à Imperatriz… O hotel Caldas da Imperatriz foi construído em homenagem à Imperatriz. Eles estiveram em vários lugares.
A visita em Santo Antônio foi um pouco mais longa do que o esperado, conta o professor. A intenção era ir até Biguaçu, mas “bateu um vento forte” e eles precisaram voltar para Santo Antônio de Lisboa.
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