Estudo inédito avalia transformação de maconha em biocombustível

Uma pesquisa conduzida pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Polícia Federal (PF) e a Universidade Federal do Pará (UFPA), busca transformar maconha apreendida em biocombustível. O objetivo é reduzir os custos da PF com armazenamento e logística da droga.
Clique aqui para receber as notícias da CBN Floripa pelo Canal do WhatsApp
O estudo, chamado Projeto Cannabiocombustível, utiliza um processo de decomposição térmica para gerar bio-óleo, biogás, biocarvão e vinagre pirolítico. O projeto teve início nos laboratórios do Departamento de Engenharia Química e de Alimentos da UFSC.
O doutorando Antônio Augusto Canelas, do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química, iniciou sua pesquisa sob orientação dos professores Adriano Silva e Ana Paula Immich Boemo. Devido sua atuação em Belém, estabeleceu uma colaboração com a UFPA, onde continua os experimentos.
— Diante da grande quantidade de maconha apreendida pela Polícia Federal, surgiu a ideia de explorar essa biomassa como matéria-prima” — explica a orientadora Ana Paula. Com autorização do Superintendente da Polícia Federal do Pará e da Justiça, as pesquisas foram iniciadas há cerca de dois anos
A pesquisadora explica que a pirólise é um processo termoquímico realizado na ausência de oxigênio, no qual a biomassa é submetida a temperaturas elevadas, geralmente entre 300°C e 700°C, decompondo seus componentes orgânicos. Esse processo gera quatro frações principais, separadas por meio de condensadores, sendo elas:
- Bio-óleo: líquido rico em compostos orgânicos, podendo ser utilizado como fonte de energia ou matéria-prima para a produção de combustíveis e insumos químicos;
- Biogás: mistura gasosa composta principalmente por hidrogênio, monóxido de carbono, metano e outros hidrocarbonetos leves, aproveitada na geração de energia térmica ou elétrica;
- Biocarvão: sólido rico em carbono, utilizado como adsorvente em processos ambientais, condicionador de solo ou em aplicações industriais;
- Vinagre pirolítico: subproduto líquido resultante da degradação térmica dos componentes da maconha, contendo compostos orgânicos voláteis e ácidos orgânicos.
Atualmente, o estudo está em fase de otimização, com o objetivo de maximizar a produção com o menor custo possível. Os pesquisadores avaliam os melhores parâmetros do processo, como tempo e temperatura de pirólise, condensação de gases e taxa de aquecimento.
— São mais de seis variáveis combinadas, cuja interação pode resultar em um produto de maior qualidade e melhor eficiência na conversão da maconha em biogás, bio-óleo e biocarvão —, destaca a professora.
Após a apreensão, a droga fica armazenada em galpões até a autorização para incineração, exigindo escolta e logística para sua destruição. Apesar de ainda estar em fase piloto, a pesquisadora ressalta que o estudo pode ser aplicado a outras biomassas, como cocaína, cigarros ou quaisquer materiais orgânicos passíveis de incineração.
— Essa pesquisa representa um avanço significativo na interseção entre engenharia química, sustentabilidade e segurança pública, demonstrando como a ciência pode contribuir com soluções inovadoras para desafios complexos da sociedade —, conclui.
*Sob supervisão de Raquel Vieira
Leia mais
Acidente na BR-101 causa fila quilométrica na Grande Florianópolis