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Kênia Clube promove exibição de filme para educação durante Semana da Consciência Negra

Programação do Kênia segue até domingo (24)
20/11/2024 - 09:13
Filmes como "Moonlight", "Ó Pai, Ó 2" e "Corra!" podem ser usados para conscientização do tema (Foto: Reprodução)

Pela primeira vez, o Dia da Consciência Negra, celebrado nesta quarta-feira (20), será feriado nacional. A Sociedade Kênia Clube, localizada na rua Botafogo, se tornou um patrimônio cultural para a valorização da cultura e comunidade negra de Joinville.

Para esta semana, a sociedade beneficente preparou uma programação especial em alusão ao tema. Na próxima sexta-feira (22), será realizada a exibição do filme nacional “Ó Paí, Ó 2”, dirigido por Viviane Ferreira e com atuações de Lázaro Ramos, Dira Paes e Clara Buarque.

Para o presidente do Kênia Clube, Sandro Silva, o filme foi escolhido por retratar a diversidade da população brasileira, ilustrando também questões sociais importantes.

— A gente tem por prática no Festival Kênia Convida fazer essa exibição do filme e depois promover um debate a partir daquilo que o filme apresenta pra quem está presente — explica Silva.

Sociedade Kênia Clube

Sendo uma sequência do filme de 2007, a obra traz novamente Roque (Lázaro Ramos) no papel principal, mas agora ao lado de uma nova geração. Os personagens entram na luta pela causa negra movimentada pela música e poesia.

Conforme o presidente da Sociedade, a produção é importante para que as pessoas possam se enxergar em uma cultura que, dificilmente, é representativa.

— O filme traz toda essa coisa da diversidade. E isso é importante para crianças negras, para jovens negros se enxergarem no cinema, o que é muito difícil. Então, filmes como este trazem essa representatividade principalmente da população negra, dos negros dentro do cinema e dentro desse filme principalmente — conclui.

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Utilizar filmes para promover ideias e produtos é uma das mais influentes formas de poder, conhecida como Soft Power (poder suave). O poder suave faz com que a comunidade compreenda uma ideia através daquilo que é apresentado nas telas. Filmes que retratam questões raciais e culturais, muitas vezes, demonstram as angústias e medos vivenciadas pelo povo discriminado, fazendo com que o público sinta as dores e abrace a causa ou luta.

A exibição do filme e a roda de conversa são gratuitas ao público. A programação também conta com oficina de dança (21), apresentações culturais, Galinhada da Tia Fioca e lançamento Samba Enredo 2025 da Escola de Samba Príncipes do Samba (24).

Afinal, cinema tem cor?

Desde sua criação em 1895, o cinema foi pensado como uma arte para todos, sendo, em definição, “Cinema” como “exibição ao público”. Apesar de ser feita para todos, a 7ª arte não é feita por todos.

A história do cinema é marcada pela utilização de estereótipos e pela falta de reconhecimento de atores e atrizes negros durante seus 129 anos. Filmes importantes para o desenvolvimento do cinema como conhecemos hoje são responsáveis por realizar piadas e expressões que zombam do corpo e da imagem de pessoas negras.

Conheça filmes que marcaram a história

Em 1915, o cinema mundial conheceu um de seus grandes clássicos. “The Birth of a Nation” (O Nascimento de uma Nação) é responsável pela introdução de closes dramáticos, movimentos inovadores de câmera e introdução de trilhas orquestradas nas produções. Apesar disso, o longa retrata pessoas negras através da prática de black face, tática de pintura de pele que possui como objetivo ridicularizar pessoas negras para entretenimento dos brancos.

Todas as pessoas negras apresentadas no longa são brancas, mas utilizam a pintura da pele. Além disso, o filme retrata a ascensão da Ku Klux Klan, apresentando a instituição como verdadeiros heróis da película. 

A introdução da voz no cinema também é responsável por alimentar estereótipos racistas. Em 1927, a Warner Bros apresentou ao mundo o filme “O Cantor de Jazz”, primeiro longa parcialmente falado da história. A produção também utiliza a prática de black face no final da película, reforçando versões estereotipadas dos teatros da época.

A falta de representação também é vista nas grandes premiações do cinema. Criado em 1929, o Oscar se consolidou como o principal prêmio do cinema mundial, reconhecendo, anualmente, os melhores filmes, atores, músicas e roteiros da sétima arte. Mas a representatividade também foi esquecida pela premiação.

Somente 11 anos depois da criação da cerimônia, a Academia premiou a primeira pessoa negra. Hattie McDaniel marcou a história ao ganhar a estatueta de “Melhor Atriz Coadjuvante” por seu papel em “E O Vento Levou”. Apesar do reconhecimento, a atriz recebeu um tratamento diferente durante a cerimônia. Além da autorização que precisou solicitar para estar presente no local, McDaniel não pôde sentar junto aos colegas e nem participar da foto oficial da premiação.

Em seu discurso de agradecimento, Hattie terminou dizendo que espera ser sempre motivo de orgulho para sua raça e para a indústria cinematográfica:  “Meu coração está cheio demais para lhes dizer como me sinto”.

Mesmo com a vitória, a premiação ainda é muito criticada por não reconhecer artistas negros. Desde sua criação, apenas uma mulher negra venceu a categoria principal de “Melhor Atriz”, em 2002, 73 anos após a criação do prêmio. Halle Berry foi homenageada pelo seu papel em “A Última Ceia”, usando da sua visibilidade para criticar a indústria: : “para cada mulher de cor sem nome e sem rosto que agora tem uma chance porque esta porta foi aberta esta noite”.

A falta de reconhecimento também é perceptível na produção de cinema. Em toda a história, apenas um diretor negro recebeu a estatueta de “Melhor Filme” (12 Anos de Escravidão) e um por “Melhor Roteiro Original” (Corra!).

Infográfico sobre a trajetória do cinema (Fotos: Reprodução)

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